Tuesday, July 31, 2007

Melgas e Mosquitos

"Chegou o Agosto, é hora de partir...".
Adivinha-se alguma inactividade por estes lados.
Porque em Agosto há sempre outras coisas para fazer, em todos os lugares menos Lisboa.

Thursday, July 26, 2007

Quando fôr grande




Quero escrever assim.

Ah, e já agora, ter metade da piada do Fermín.
E dizer a palavra metidabundo todos os dias.

(Not) Everyman, because he said the sun was coming

Ler um livro implica sujeitarmo-nos a alterações no estado de espírito. Porque o livro é bom e só por isso as provoca, ou porque a ausência de estímulos faz dele um mau livro - e o mais provável é irritarmo-nos e passarmos para outro.

Há livros tão bons que nos magoam. Everyman é duro, cru e dolorosamente sincero. Nele não há mistério, uma vez que começa pelo fim. É a certeza desse desenlace que nos prende - não há como fugir à frieza e ao fechamento daquele publicitário sem nome excepto o de pai, filho, irmão, tio, amigo, ex-marido e amante, dominado pelo medo do declínio e da morte, num combate desigual que o empurra para uma «distorção do carácter».

No contexto de uma descida pela costa alentejana a leitura aguerrida calhou num dia de tempo cinzento, frio e até chuvoso - cenário mais do que adequado ao teor da obra.
Finda a última linha sente-se o cansaço de quem se rende à evidência de que naquele homem e nas suas reacções cabiam todos os outros e outras atingidos pela doença, desalento e solidão.
Tendo de disfarçar o efeito alienante do livro perante o grupo em redor, só se consegue responder «é pesado!».

Mas o dia acabou por abrir num fim de tarde na praia da Zambujeira, com o sol quente a querer bater nas costas.
Já não é ao livro mas ao sol que me rendo, deixando-me adormecer. A música de fundo que me embala (exclusivamente a mim) anuncia o sol que eu já tinha sentido, e faz crescer a convicção de que nem todos os homens cabem no título deste livro (ou pelo menos nos seus conteúdos mais escuros) - porque tive o privilégio de conhecer uma excepção.

Há livros tão fortes que nos marcam, mas nunca sozinhos. Como naqueles programas de tv onde se cuida da imagem e que mostram o antes e o depois.
O antes: umas linhas escritas à mão na página anterior ao prefácio, a justificar o presente; a recomendação de alguém que nos é importante; um impulso face à montra da livraria.
O depois? Pode ser a simples recordação de quem nos acompanha, esteja onde estiver.

Monday, July 16, 2007

Eufemismo dos mal-entendidos




Apetece ligar para uma estação e pedir que a toque enquanto ainda estamos no carro - e que pena não poder ser no modo repeat.
Ou então agradecer ao desconhecido que adivinhou a vontade que ainda não tivemos, telefonando primeiro.

Em qualquer dos casos: foi paixão à primeira nota, no cenário sublime da IC19.

Wednesday, July 4, 2007

Imitando (brincadeira e vergonhosamente) um clássico

«You give your hand to me
And then you say, "Hello."
And I can hardly speak,
My heart is beating so»

Sim, cara leitora, é contigo que a canção fala. Não franzas o sobrolho nem arqueies a sobrancelha; e por favor, não faças esse ar de «are you talking to me?».
A música toca para quem a quiser ouvir. Mas mais cedo ou mais tarde esbarras na letra. Complicado? Às vezes...

Estás no carro – e esta é a parte em que pertences à história que escrevo, imitando esse tal de Calvino. Dizia eu: estás no carro, e o som que te oferecem é este, que vai continuando «afraid and shy, i let my chance go by...». E sem dares por isso já substituíste os protagonistas, sem autorização prévia do Ray ou da Diana. Segues pela marginal sem saber muito bem como, abstraída na história onde te deixaste entrar.
Chegas ao teu destino, um bar. Cores quentes, vistosas – assim como a sua frequência. É verão, não podia ser de outra forma. Já descobriste a tua mesa e nela o teu grupo, é hora de largares a tua história como quem abandona momentaneamente o livro que está a ler, porque entretanto anoiteceu e é hora do jantar.

Não estavas à espera de o ver aqui – o verão gosta de pregar partidas, que depois de descobertas parecem mais do que óbvias. And now what?

Vais esbater a tua surpresa e controlar um sorriso escancarado. Vais fingir que não sentiste os olhos dele pregados em ti, desde a porta até ao teu banco; se calhar o melhor é até mostrares alguma surpresa. Cuidado, não te deixes levar pelo tom bronzeado por debaixo daquela camisa verde (tinha mesmo de ser verde?!).
No momento em que te sair um «olá», deveria ter saído muito mais. Mas sempre foste perita na arte de camuflar, não estás em campo de amadores.
Entretanto já estás ao pé do balcão, onde ele sempre esteve, e deixaste o teu grupo numa conversa estridente, entre jogos onde um copo de sangria é primeiro e único prémio.
Ele? Vai-te sorrir, como sempre, sem disfarces ou rodeios. Como sempre para ti, ou para todas?
A conversa flui – escandalosamente fácil entre vocês, quer se tenham visto ontem ou há umas semanas, no limite meses – e da primeira vez em que os dois se calam há um instante onde não há tempo nem modo de fingir - um elogio que ele não consegue acabar, uma resposta que teima em não te sair.
Ou pelo menos assim vos parece, sem que nenhum admita.
«There’s a time and place», dizem os Mike and the mechanics. E subitamente esta canção parece-te muito mais adequada do que a primeira, qual andaime para te justificares (a ti mesma) recolocando a máscara.

And then?

O tempo, os planos, as bocas e as gargalhadas numa conversa interminável. Certamente uma noite bem passada entre dois bons amigos.
No caminho para casa, esbarras numa «i say a little prayer for you» e de repente projectas-te numa grande festa: mesas redondas, copos esguios, discurso feito.
Não, o teu vestido não é branco, nem pouco mais ou menos. Mas também não é roxo como o da Julia. Preferiste um encarnado, talvez para dissimulares uma analogia mais do que evidente.

Estacionaste o carro. Antes de retirares o rádio sai-te uma gargalhada alucinante. Acabas de te imaginar dentro do KIT, que se despediria assim da condutora justiceira: «My darling, stop living in fairy tales!».