Thursday, June 28, 2007

Tivoli


Ieri cumprimos uma das componentes do nosso Erasmus: metermo-nos num comboio rumo a uma cidade qualquer.
Afastamo-nos um bocadinho do centro e começa a surgir a paisagem que tanto caracteriza este país - a de pequenas cidades que se desenvolvem a partir do cume de um monte.
Tivoli parecia ser uma entre muitas, de aspecto meio desarranjado e um nível de amabilidade elevado entre os nativos. Continuamos a confirmar a tese de que os italianos são mais simpáticos fora da bella Roma.
Sempre a pé, encontrámos o primeiro objecto do nosso itinerário: a Villa d’Este. Aqui a simpatia no atendimento já foi menor, mas o que nos esperava compensou.
Visitado o palazzo, que mais parecia um jardim interno, o som da água acompanhou-nos durante a hora e meia de passeio por um jardim cuidado no pormenor.
As fontes vestiam-se dos mais variados temas, desde a alusão a uma romanetta – onde não faltaram a loba e o obelisco – ao corredor das cem fontes (e cem figuras) que espeliam água. Mais tarde soubemos que nenhum dos efeitos destas fontes é impulsionado por um motor, mas todos conseguidos pela força da água que desce de uma barragem.
Consagrado o parque píu bello dell’Europa 2007, a Villa d’Este está em condições de fazer inveja ao Jardin des Tuileries.
Chegava a hora da prossima fermata: Villa Gregoriana. E aqui o dia entrava num jogo de contrastes entre a beleza natural e a cuidada. Não encontrámos esculturas nesta segunda villa, pelo menos das que resultassem de mãos humanas. O ambiente era o de uma mini-selva, que começou e terminou numa cascata (com algumas dúvidas de orientação pelo meio, e muitas subidas e descidas).
Quase na hora do regresso, somos convidadas a participar numa festa patrocinada por um supermercado da zona! Balões, palhaços em andas, cornetti, salgadinhos, algodão doce e frango assado, ao som de uma música que podia ser a de um arraial numa terrinha portuguesa.
De algodão doce em punho em direcção à estação ferroviária, não conseguimos discernir qual das villas receberia o nosso prémio, sinal de que Tivoli fora uma boa aposta.
2 a 0.
Como acontece naqueles dias de praia que duram até ao anoitecer, o sono profundo mal acampadas no comboio não deixou dúvidas quanto ao resultado final.

Monday, June 25, 2007

O que se é de visita a uma cidade onde já se viveu, ainda que por pouco tempo?




Bilhete, sanduíche, água e máquina fotográfica.
Olhar atento, postura descontraída.
Língua estrangeira na conversa com quem nos acompanha.
Convenhamos: não somos nativas.

Mas também não fazemos parte dos 50 seguidores de uma flor ambulante, ou dos menos de 50 que alinham no itinerário American Express. Não temos guias electrónicos onde na tecla 1 aprendemos sobre as picardias entre Bernini e Borromini e na tecla 2 somos confrontadas com o feitio difícil de Caravaggio.

Escolhemos o nosso caminho por entre os círculos, triângulos e rectas que formam o labiríntico centro de Roma. Conhecemos atalhos e descobrimos outros – porque há sempre qualquer coisa por descobrir na Cidade Eterna.

Fora do centro a nossa nacionalidade passa despercebida; há até quem peça indicações.
Somos capazes de ensinar um italiano a escolher o melhor autocarro para um determinado destino, e de ajudar uma zía a estacionar a carro e dirigir-se para a estação de metro mais próxima, não vá o salto agulha atrapalhar a pose.

Na zona onde morámos é inevitável não falar em “nossa casa” – ainda que lá tenham vivido muitos antes de nós e outros tantos estejam ainda por vir – e em “nossa gelataria” – mesmo que quem nos sirva o "inimitável" gelado de figo já não nos reconheça.

Em que ficamos?
Os nativos da bella Roma que me perdoem, mas sou um bocadinho ladra, e não consigo deixar de a sentir um pouco minha, como quando ao referimos uma pessoa de quem gostamos cometemos o pleonasmo «eu tenho um amigo meu…».
Mas não sou daqui: e apercebo-me disso não tanto quando me abordam em inglês, mas quando não consigo disfarçar espanto perante uma noite a adivinhar-se de uma ponte, entre Trastevere e a Piazza di Torre Argentina. E ainda assim toda a tarde parecia ter estado em casa, distraída entre ruas e a ter ataques de riso na cafetaria da Feltrinelli, onde nos ofereceram um delicioso caffé freddo.

Por agora, acho que sou uma visitante sem guia.

Thursday, June 21, 2007

La prima giornata


Foto tirada pela ladra de guardanapos

António Mega Ferreira, num livrinho que andei a ler há cerca de um ano, dizia que em cada cidade escolhemos um centro. Este pode ser o que quisermos – desde um monumento a uma rua – sendo que a sua definição aproxima-se de um ponto de partida para o resto do passeio.
Na Roma que dava nome ao livrinho, o autor escolhia o Panteão. Desde cedo defendi a Piazza Navona, num debate com os restantes Furios Camillos, quando rodeados de petiscos numa tasquinha em terras sicilianas.
Hoje encontrámos parte do meu centro em obras. O Danúbio, o Prata, o Ganges e o Nilo lá estavam, embora escondidos e bem secos. Peccato!
Ultrapassado o choque inicial perante o ponto de partida de um regresso tão desejado, seguiram-se seis horas de passeio por mares já algumas vezes navegados, mas que sabem sempre a sais diferentes.
Com o calor a fazer questão de nos acompanhar, reencontrámos algumas caras e confirmámos a tese de que em Roma acontece sempre algo de extraordinário: fomos perseguidas por uma senhora de idade estranhamente afeiçoada a um guardanapo de papel, que a minha companheira de serviço havia delicadamente retirado de um recipiente estrategicamente posicionado em cima de um balcão, mesmo à mão de semear. «Estes romanos são doidos!», já dizia o outro.
Este meu amigo de longa data concorda plenamente, mas acrescenta: estamos aqui, não estamos?

Sunday, June 17, 2007

Tagarelice

Às vezes o estado entre conhecer e adorar uma música passa por querer conversar com ela.
«Mostra-me o avesso da tua alma», diz o Rui. Apetece responder: «e se eu não quiser?».
E depois a Lena chega e diz «sempre que o amor me quiser, basta fazer-me um sinal». «Olha, não sejas foleira, ‘tá?».
Se o Rui pega em eufemismos, o Bryan recorre ao ultimato em Inside Out – que deixa qualquer um sem resposta.
Um dia, o Dave com o seu dinamismo «i will go in this way, and find my own way out»: «hey,espera lá que eu também vou!». Noutro, o Louis diz-nos que no dia dele o céu está azul e as nuvens muito branquinhas – e mesmo que no nosso não estejam, apetece responder na mesma moeda.
Outras tantas conversas com o Phill, o Van, o Bobby, o David (cinzento), o Rui outra vez, e tantos outros e outras que andam por aí a espicaçar quem lhes quiser dedicar «três minutos de atenção».
A tagarelice do momento dá-se com uma tal de senhora Feist, qual doutorada em argumentos bem difíceis de replicar. Mas assim é que tem graça.

Thursday, June 7, 2007

É a perecibilidade, menina!

Tinha um rascunho de um post armazenado no meu caderno (o outro), à espera que me apetecesse pensar seriamente na melhor forma de (d)escrever o jardim que mora aqui ao lado.
Não que a temática fosse do interesse especial de quem por aqui (caderno virtual) passa; antes queria perceber para que serve afinal aquele espaço; imaginar as razões de cada trauseunte.
Acontece que esse rascunho guardava uma ideia-chave, qual ponto alto deste spot. Ao pedido de um café, seguido da pergunta «quanto é?», a resposta foi sempre a mesma: «50 cêntimos menina, por enquanto!».
O «por enquanto» justificava-se mencionando as docas, alertando para os jardins de belém, viajando até à marina de cascais e, caso ainda restassem dúvidas, fazendo recordar a zona do príncipe real.
«Mas por isso é que estou aqui e não nas docas», respondi uma das vezes, armada em engraçadinha.

Hoje paguei 60 cêntimos - e o meu rascunho foi ao ar.
Ainda atordoada, e com níveis reduzidos de vontade, pego nos slides de Sociedade da Informação.

«Características do conhecimento:
(...)
e) Perecibilidade: o valor do conhecimento tende a diminuir, e pode mudar de um momento para o outro (...).
Solução: RAPIDEZ - aproveitar a tendência enquanto
dura.»

Lógico, não é? Ou então é só a inflação, e esta gente gosta é de nos fazer perder tempo a pensar nestas coisas, junto ao lago onde a estátua de um cão cospe água e alguns dos peixinhos dourados (que para mim serão sempre cor-de-laranja) mais parecem garoupas a precisar de uma dieta.

Espero que o sr dono (ou sra dona) não se importe; não resisti

A culpa foi do senhor que me atendeu na loja do MNAA (gente boa e simpática a trabalhar num feriado, com uma temperatura destas!), que sugeriu que saísse pela porta de baixo.
Perfeito, perfeito? Era isto num beatlezinho.

Tuesday, June 5, 2007

And now what?


A equacionar o sinal que não se vê, porque se escolheu primeiro a faixa da esquerda.

Ainda a tempo de virar para o lado direito?

O traço é bem contínuo.

(As probabilidades de choque também)