Wednesday, November 28, 2007

Quando uma muito boa pivot se mostra uma excelente jornalista

Na edição da noite da Sic Notícias Ana Lourenço vinha cumprindo o seu papel de pivot, apresentando os blocos noticiosos em sessão quase continua.
Às 23h, o jornal abriu com Miguel Sousa Tavares em estúdio. Estávamos todos à espera que o questionasse sobre a longa e incisiva crítica que Vasco Pulido Valente endereçou ao Rio das Flores no Público de sábado passado. Mas a jornalista entrou de mansinho e quando a referência ao artigo do Público surgiu contavam-se já dez minutos de entrevista. O suficiente para conseguir o que todos queríamos, sem fazer da polémica tema exclusivo.
A conversa acabou por chegar aos quarenta minutos, sem nunca cair no desinteresse. Educada, segura e bem preparada, a pivot foi colocando as questões mais variadas (e menos esperadas): o papel das mulheres nas obras do autor, a dedicatória dirigida à sua mãe, a sua identificação (ou não) com as personagens, a questão da liberdade na sociedade actual...
No final arriscou e ouviu dizer mal do jornalismo televisivo, após ter pedido ao entrevistado que comentasse o jornalismo actual.
Uma senhora, esta pivot. Já a tinha em muito boa conta pela presença sóbria e inegável boa aparência. Fiquei também a admirá-la - e muito - como jornalista.

Wednesday, November 21, 2007

Porque há desculpas melhores

«Não devias ser assim», tentaste dizer-me hoje ao ouvido. Eu nem ouvi bem, tinha muito barulho à volta.
Seria barulho?
Não faças cara de mau: ainda não é hoje que consegues. Tens o canto da boca a traír-te, o sorriso está para sair.
«Não sou eu», apetece responder. Como um miúdo que grita «não fui eu!» antes de alguém descobrir que houve asneira.
De mão cruzadas sobre a manta axadrezada, que te aquece as pernas, é a vez do olhar substituir-te a voz. Porque essa vai fingir desviar o assunto quando me pegares na mão e gozares com o verniz avermelhado das minhas unhas.
Mas os nossos olhos sabem bem que continuas a querer dizer o mesmo, sem maldade.

E é precisamente por isso que não posso continuar a fingir que há barulho.

Fazemos um pacto? Empresta-me um bocadinho dessa manta aos quadrados.

Monday, November 12, 2007

É que hoje acordei e lembrei-me





Que me irrita gostar desta música.
E quando vi que a filmaram no meu jardim?
Ora pois que dar o braço a torcer custa.
Venham os comentários jocosos: estou quase como o outro na tv...

Eu não sei não gostar desta canção!

Shame on me.

"Nada de especial, "é tarde" e "não foi nada"

A crónica que António Lobo Antunes assina esta semana não se consegue ler uma vez. Ou de uma vez só. Ou as duas coisas.

«Que silêncio tão grande. No interior do silêncio mais silêncio e no interior do mais silêncio um relógio minúsculo a anunciar
- Já é tarde, já é tarde
de forma que nem reparamos nos ponteiros. Para quê se o relógio insiste
- Já é tarde, já é tarde
e nós a olharmos uns para os outros, inquietos
- O que diz o relógio?
(...)
o silêncio aumentou tanto que o relógio se calou, uma palma no nosso ombro
- O que foi?
e construímos peça a peça um sorriso difícil
(custa tanto um sorriso)
que responde por nós
- Não foi nada.»

O relógio. Essa desculpa...