Wednesday, July 4, 2007

Imitando (brincadeira e vergonhosamente) um clássico

«You give your hand to me
And then you say, "Hello."
And I can hardly speak,
My heart is beating so»

Sim, cara leitora, é contigo que a canção fala. Não franzas o sobrolho nem arqueies a sobrancelha; e por favor, não faças esse ar de «are you talking to me?».
A música toca para quem a quiser ouvir. Mas mais cedo ou mais tarde esbarras na letra. Complicado? Às vezes...

Estás no carro – e esta é a parte em que pertences à história que escrevo, imitando esse tal de Calvino. Dizia eu: estás no carro, e o som que te oferecem é este, que vai continuando «afraid and shy, i let my chance go by...». E sem dares por isso já substituíste os protagonistas, sem autorização prévia do Ray ou da Diana. Segues pela marginal sem saber muito bem como, abstraída na história onde te deixaste entrar.
Chegas ao teu destino, um bar. Cores quentes, vistosas – assim como a sua frequência. É verão, não podia ser de outra forma. Já descobriste a tua mesa e nela o teu grupo, é hora de largares a tua história como quem abandona momentaneamente o livro que está a ler, porque entretanto anoiteceu e é hora do jantar.

Não estavas à espera de o ver aqui – o verão gosta de pregar partidas, que depois de descobertas parecem mais do que óbvias. And now what?

Vais esbater a tua surpresa e controlar um sorriso escancarado. Vais fingir que não sentiste os olhos dele pregados em ti, desde a porta até ao teu banco; se calhar o melhor é até mostrares alguma surpresa. Cuidado, não te deixes levar pelo tom bronzeado por debaixo daquela camisa verde (tinha mesmo de ser verde?!).
No momento em que te sair um «olá», deveria ter saído muito mais. Mas sempre foste perita na arte de camuflar, não estás em campo de amadores.
Entretanto já estás ao pé do balcão, onde ele sempre esteve, e deixaste o teu grupo numa conversa estridente, entre jogos onde um copo de sangria é primeiro e único prémio.
Ele? Vai-te sorrir, como sempre, sem disfarces ou rodeios. Como sempre para ti, ou para todas?
A conversa flui – escandalosamente fácil entre vocês, quer se tenham visto ontem ou há umas semanas, no limite meses – e da primeira vez em que os dois se calam há um instante onde não há tempo nem modo de fingir - um elogio que ele não consegue acabar, uma resposta que teima em não te sair.
Ou pelo menos assim vos parece, sem que nenhum admita.
«There’s a time and place», dizem os Mike and the mechanics. E subitamente esta canção parece-te muito mais adequada do que a primeira, qual andaime para te justificares (a ti mesma) recolocando a máscara.

And then?

O tempo, os planos, as bocas e as gargalhadas numa conversa interminável. Certamente uma noite bem passada entre dois bons amigos.
No caminho para casa, esbarras numa «i say a little prayer for you» e de repente projectas-te numa grande festa: mesas redondas, copos esguios, discurso feito.
Não, o teu vestido não é branco, nem pouco mais ou menos. Mas também não é roxo como o da Julia. Preferiste um encarnado, talvez para dissimulares uma analogia mais do que evidente.

Estacionaste o carro. Antes de retirares o rádio sai-te uma gargalhada alucinante. Acabas de te imaginar dentro do KIT, que se despediria assim da condutora justiceira: «My darling, stop living in fairy tales!».

3 comments:

Maria de Castro said...

Ontem, o vestido encarnado voltou a enfeitiçar. Só porque te viu, um dos "meninos" que me acompanhava resolveu voltar mais cedo para casa. Para ele, o dia já estava ganho!

E olha que é verdade, verdadinha!

Mais pormenores?

Anonymous said...

Sim,sim,sim!

Luísa Cê said...

Gostei imenso do que escreveste. E o Italo não ficou zangado, com certeza, o teu está muito original!