Thursday, July 24, 2008

Fora de brincadeiras

Uma das crianças está de pé, com os braços abertos e pernas afastadas, ou juntas, conforme se sentir mais apoiada. A outra está um passo e meio à frente, de costas para a primeira.
Segue-se a parte da acção. Sem olhar para trás a segunda deixa-se cair, porque a primeira está pronta a recebê-la, evitando a queda.
Hakuna Matata, sem problemas. Tolera-se um friozinho na barriga, uma espécie de vertigem de hesitação; mas não vale (mesmo) olhar para trás.

Entre as várias brincadeiras que se ensinam às crianças, esta é provavelmente
a mais romântica, e certamente das mais difíceis. Mas apenas para quem assiste.
Convencer um companheiro a deixar-se cair, ao mesmo tempo que nos convencemos de que somos capazes de o segurar, é coisa que entre crianças até se resolve de forma simples, caso o jogo corra mal.

- Então pah, tás parvo ou quê?

- Pah, tu é que caíste depressa demais, e ainda por cima és pesado!


mais um empurrãozito ou outro e um balanço final de cotovelos esfolados e umas nódoazitas negras nas costas.

Afinal, a verdadeira dificuldade surge quando já não é altura para brincadeiras, e a fasquia aumenta. O peso também.
E aquela vertigem de hesitação é agora enorme, de ambos os lados.

«Não posso exigir que ele aguente com o meu peso»

«Não posso garantir que estou preparado para evitar a queda»

- O melhor é não jogarmos ao jogo romântico.


Convenhamos, fora de brincadeiras: não se trata de quilos a mais.
Estamos todos parvos, ou quê?

2 comments:

Anonymous said...

Tudo bem, tudo bem..mas eu reflectia sobre os quilos a mais na mesma:) ... lol

JPC said...

Estamos.



(e com uns quilos a mais também)