Uma das crianças está de pé, com os braços abertos e pernas afastadas, ou juntas, conforme se sentir mais apoiada. A outra está um passo e meio à frente, de costas para a primeira.
Segue-se a parte da acção. Sem olhar para trás a segunda deixa-se cair, porque a primeira está pronta a recebê-la, evitando a queda.
Hakuna Matata, sem problemas. Tolera-se um friozinho na barriga, uma espécie de vertigem de hesitação; mas não vale (mesmo) olhar para trás.
Entre as várias brincadeiras que se ensinam às crianças, esta é provavelmente
a mais romântica, e certamente das mais difíceis. Mas apenas para quem assiste.
Convencer um companheiro a deixar-se cair, ao mesmo tempo que nos convencemos de que somos capazes de o segurar, é coisa que entre crianças até se resolve de forma simples, caso o jogo corra mal.
- Então pah, tás parvo ou quê?
- Pah, tu é que caíste depressa demais, e ainda por cima és pesado!
mais um empurrãozito ou outro e um balanço final de cotovelos esfolados e umas nódoazitas negras nas costas.
Afinal, a verdadeira dificuldade surge quando já não é altura para brincadeiras, e a fasquia aumenta. O peso também.
E aquela vertigem de hesitação é agora enorme, de ambos os lados.
«Não posso exigir que ele aguente com o meu peso»
«Não posso garantir que estou preparado para evitar a queda»
- O melhor é não jogarmos ao jogo romântico.
Convenhamos, fora de brincadeiras: não se trata de quilos a mais.
Estamos todos parvos, ou quê?
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2 comments:
Tudo bem, tudo bem..mas eu reflectia sobre os quilos a mais na mesma:) ... lol
Estamos.
(e com uns quilos a mais também)
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