Thursday, February 22, 2007

Carnaval entre opostos


Fedra, no Teatro Maria Matos, 2 amores, no Villaret. Duas formas antagónicas de abordar um segredo inconfessável. Uma clássica, a outra contemporânea? Ou é possível descortinar um quê de contemporaneidade em Fedra, no sentido de identificar elementos que nos são caros?
À primeira vista, Fedra não é do nosso tempo. Diz quem me acompanhou que «custa a entrar». A linguagem, o guarda-roupa e o movimento corporal do “pára-arranca” já não se usam; o frenesi de Beatriz Batarda, num desespero exacerbado, chega a incomodar.
Será que a nós, ao nosso tempo, já não choca o amor de uma madrasta pelo seu enteado? E daí tornar-se difícil a aceitação do desespero assumido e exteriorizado de Fedra?
Esse sofrimento também não é do nosso tempo. O nosso é escondido, mascarado, disperso em desabafos ocasionais, canalizado para uma intensa e contínua actividade; a estes olhos, Fedra é louca e desequilibrada, a quem apetece dizer «oh filha já chega, é a vida. Levanta-te e ri.»
Sabemos, desde o início, que Fedra não se vai levantar, e muito menos rir. O segredo que esconde não se coaduna com a dignidade que os deuses exigem: Fedra sabe-o e assume-o.
Eu gostei. Estranhei um pouco o cenário, não senti a ligação com o resto. Sobre os actores, lamento algumas discrepâncias entre os contributos, que prejudicaram a noção da peça como um todo. Há mesmo momentos que incentivam a um certo desligamento – e eu julgo que até estava sintonizada.
A força esteve na Beatriz Batarda: o texto, a expressão, o vestido – ajustado ao corpo, mas que não o prendia, antes parecia acompanhar os seus movimentos – tudo nela fez sentido. Moral da história: a parte ganhou ao todo.

Duas peças, dois efeitos. Em Fedra, o efeito não me foi imediato: foi ficando, obrigando-me a pensar, «custando a sair».
Em 2 amores a reacção é instantânea, e com fortes probabilidades de causar dores abdominais. Não consegui conter alguma expectativa antes de entrar, e não saí (de todo) desiludida! Antes surpreendida pela capacidade daquele grupo de actores nos fazer rir durante três horas, de tal forma que os próprios manifestaram dificuldade em manter a postura.
João Santos tem duas vidas, e uma mulher em cada uma delas. Ao contrário de Fedra, não está lá muito preocupado. A bigamia é crime, ah pois é, mas é preciso ser descoberta! E para evitar essa situação desagradável (pois que consta que a prisão não é o melhor dos mundos) o senhor taxista fugareiro tem tudo sob controle. Até ao dia...
Altamente recomendável; não sujeito a receita médica.

4 comments:

o (grande) autor said...

a Arícia, interpretada pela Sara Carinhas, estava um espectáculo.
e a Beatriz Batarda...enfim, é a Beatriz Batarda...

o (grande) autor said...

epá, eu não quero ser indelicado, mas a escrita regular tem de se manter, caramba.
chiça.
apre!
:)

maria said...

lol tens toda a razao jota, ando a baldar-me um bocado...sorry

Anonymous said...

O carnaval foi giro mas já la vai..o que é feito da escrita desta autora que me vinha fascinando artigo após artigo..ferias?!? nao podia..distracção??nao devia..Falta de assunto?! nao acredito!:) o scp ganhou e isso nao bastou..?:P bjs